7º Beagá Psiu Poético: “ASSEMIAS – Mostra Internacional de Escrita Assêmica” integra programação do festival

A exposição ASSEMIAS – Mostra Internacional de Escrita Assêmica, foi realizada inicialmente pelo Grupo de Pesquisa Poéticas em Campo Experimental (PAX), do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena (PPGAC), tendo sido exibida no espaço expositivo da Escola de Comunicação Social (ECO). Com obras de 34 de artistas de 19 países, esta foi a primeira exposição coletiva internacional da ainda pouco conhecida modalidade da Escrita Assêmica realizada no Rio de Janeiro. Com curadoria de Tchello d’Barros e produção do Instituto Imersão Latina – IMEL, a mostra agora itinera para Belo Horizonte e estará aberta para visitação, com entrada gratuita, entre os dias 17 e 21 de maio, na Casa de Jornalista, pela programação do festival de arte contemporânea Psiu Poético Beagá 2025.

Artistas Participantes

ALGERIA: ABDELHAQ DJELLAB | ARGENTINA: HILDA PAZ – ROSA GRAVINO | AUSTRALIA: LUCINDA SHERLOCK | BRASIL: ELSON FRÓES - EVANDO NASCIMENTO | CANADA: GRANT GUY – MAY BERY | ESPAÑA: CESAR REGLERO CAMPOS – RAFAEL GONZÁLEZ | FINLAND: KARRI KOKKO | FRANCE: ANDRÉ ROBÈR – CHRISTIAN PINÇON | ISRAEL: MERI KARAKO | ITALIA: ANGELA CAPORASO - ANNALISA RETICO – FRANCO PANELLA – ORONZO LIUZZI | JAPAN: KEIICHI NAKAMURA – MICHAEL KOSTIUK – TOHEI MANO | MÉXICO: JESÚS URBINA RZ - MARA PATRICIA HERNANDEZ | PERÚ: MICHAEL HURTADO | POLAND: MAREK PRZYBYLA – MIRON TEE & BEA TUDOR – PIOTR SZRENIAWSKI | PORTUGAL: FERNANDO AGUIAR | RUSSIA: RENE RIG | UKRAINE: LINA STERN | URUGUAY: JUAN ANGEL ITALIANO | USA: KERRI PULLO – MICHAEL ORR

 Texto Curatorial:

A ESCRITA ASSÊMICA COMO POÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE

                                                                                           por Tchello d’Barros* 

                             “Ao eliminar informações semânticas, a escrita assêmica

traz à tona conteúdos emocionais e estéticos.”
Tim Gaze

                                                                                                                             

Na história da Comunicação, naquele âmbito em que esta se encontra com as Artes, sempre houveram escribas, tipógrafos, calígrafos, poetas e artistas dedicados às experimentações estéticas com a escrita em si, seja na dimensão simbólica, seja no aspecto formal. Na segunda metade do séc. XX a Poesia Expandida, também nominada de Poesia Experimental, foi ampliando seus limites com, p. ex., a Poesia Visual, os Concretismos e o Poema/Processo. E já no finzinho do milênio, foi se configurando uma nova vertente: a Escrita Assêmica (Asemic Writing). Ainda pouco conhecida no Brasil, essa modalidade híbrida entre texto e imagem vem aos poucos espalhando-se mundo afora com exposições, publicações, estudos acadêmicos e disseminação on-line.

Assemia é um termo por si só pol(iss)êmico que remete tanto a condição de ausência de sentido: “sem conteúdo semântico”, portanto não há qualquer intenção em comunicar enunciados, transmitir informações, dizer o quer que seja para o eventual receptor. Já na área da saúde, a palavra se refere a pessoas que sofrem com a “dificuldade de usar palavras e gestos para se comunicar ou compreender ideias”. Ambos os casos apontam por vias diversas a uma comunicação que não se efetiva no nível racional e simbólico.

Quando Walter Benjamim1 avisou que “não há evento ou coisa que não tenha, de alguma maneira, participação na linguagem, pois é essencial a tudo comunicar seu conteúdo espiritual” (1916), já demonstrava sua preocupação com os rumos da escrita.  Isto se confirma duas décadas mais tarde, quando nos informa em seu antológico ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica1, que “durante séculos, a situação da escrita foi de tal ordem que a um reduzido número de escritores correspondia um número de vários milhares de leitores.” (1936). No entanto, em nossa contemporaneidade a Escrita Assêmica, com suas peças únicas e irrepetíveis, caracteriza-se como um contraponto aos textos gerados por Algoritmos, Inteligências Artificiais e Chatbots.

Mas se tais textos e texturas não pretendem fazer sentido, não quer dizer que não possam gerar sentido ao encontrarem o universo interior de quem vê/lê essas imagens. Propositadamente ilegíveis, constituem-se de palavras, versos e linhas assemânticas, abstrações livres do discurso convencional, caligrafias espontâneas ou digitações aleatórias. Por vezes, encontram-se símbolos de comunicação, caracteres borrados, tipografias experimentais ou codificações que aludem tanto ao rupestre quanto às criptografias cibernéticas. A intenção é privilegiar o gesto orgânico e libertário, com resultados que apenas se pareçam com o que chamamos de escrita.

Porém, pode-se ir além: a observação detalhada, pode acessar a intuição a tal ponto de decifrar o estado de espírito de quem produziu a imagem. Há também um jogo lúdico, uma comunicação silenciosa e invisível, ao tentar apreender o humor do(a) artista no instante em que produziu a obra, já que mudamos constantemente nossas emotividades internas. Assim, a fruição de obras assêmicas pode gerar experiências poéticas, estéticas e emocionais.

Portanto, essa arte de poucas regras mas muitas possibilidades, opõe-se ao consumismo capitalista da cultura de massa em nosso tempo. E, nesta mostra Assemias buscou-se também apresentar alguma diversidade de origens dos artistas bem como certa pluralidade de técnicas, matérias, suportes e mesmo os inevitáveis hibridismos entre linguagens artísticas.                                                   

*Tchello d’Barros é Escritor, Artista Visual e Curador.

Pesquisador em Poéticas do Campo Experimental (PAX) no PPGAC/UFRJ                               
Rio de Janeiro (RJ), Brasil   

 …………………………………………………………………………………………………………

 Serviço:
Inauguração: 17.Mar.2025
Visitação: até 21.Mar.2025
Local: Casa de Jornalista / Sindicato d@s jornalistas de MG
Av. Álvares Cabral, 400. Centro. Belo Horizonte (MG) Brasil

Entrada Franca